quarta-feira, 26 de abril de 2017

No Amapá, Parques Nacionais promovem projeto quelônios nas bacias dos rios Oiapoque e Cassiporé

Atividades contribuem com o repovoamento das espécies de tracajás e tartarugas-da-amazônia.
Projeto atua há 10 anos com ajuda dos Parques Nacionais Montanhas do Tumucumaque e Cabo Orange.

Quelônio na região do Oiapoque. Foto: Luciano Candisani

Pertencentes à ordem Chelonia, Quelônios são répteis ovíparos que possuem uma carapaça, que tem como principal função garantir a proteção do corpo dos animais contra predadores e impactos físicos.  No Amapá, um projeto de manejo e proteção, que tem a participação de dois Parques Nacionais, deseja contribuir com o repovoamento das espécies de tracajás (Podocnemis unifilis) e tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), consideradas Quase Ameaçada (NT) de extinção.

As atividades de proteção já acontecem há 10 anos em parceria com o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), Parque Nacional Cabo Orange (PNCO), Associação Ambiental Pegadas do Oiapoque (AAPO), Chácara Du Rona (CDR), Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) de Oiapoque e Comunidades de Vila Velha do Cassiporé, a 140 quilômetros da cidade de Oiapoque, e Primeiro do Cassiporé, a 110 quilômetros.

Filhotes no taque de Vila Velha. Foto: Acervo do PNCO
“Lidar com filhotes de tartaruga e tracajás atraem muito atenção da criança, do adulto, e tem o poder educação ambiental muito forte”, conta o Ricardo Motta Pires, chefe da Unidade de Conservação Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), no extremo norte do Amapá, sobre a atuação do Projeto Quelônios.

O projeto de manejo para conservação de quelônios surgiu da preocupação de moradores das comunidades ao redor das bacias dos rios Oiapoque e Cassiporé com a redução dos estoques naturais de tracajás e tartarugas-da-amazônia.

“Uma analista ambiental que trabalhava para o Cabo Orange era bastante envolvida com estudos sobre quelônios, além disso, sabemos que estes animais são simpáticos para a população em geral, por isso vimos que precisávamos pensar em algo que pudesse contribuir com o efeito de repovoamento da espécie, pois segundo os comunitários, estavam diminuindo muito a ocorrência de tracajás, e principalmente de tartaruga. Um projeto como este também nos ajudaria a dialogar com as pessoas sobre a conservação da fauna e flora da região”, explica o Ricardo Pires, Chefe do PNCO.

Em 2007, as atividades de manejo iniciaram no rio Oiapoque, em parceria com o PARNA Montanhas do Tumucumaque e “Chácara Du Rona”. A Equipe do PARNA Cabo Orange que fica na cidade de Oiapoque ajudou.

“Se coletou ovos no rio Oiapoque e levou para incubar, que é colocar os ovos em um ninho artificial, na Chácara du Rona. E depois soltou no rio Oiapoque. Em 2007 foi a primeira vez que teve projeto na região e foi na cidade de Oiapoque”, explica Ivan Vasconcelos, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio).

No norte do Amapá, a tartaruga-da-amazônia só ocorre no Rio Cassiporé. A espécie do Tracajá existe tanto no Cassiporé, quanto no rio Oiapoque e afluentes. Todas as coletas nos Parque Nacionais são feitas com autorização do ICMbio, a partir de solicitação de pesquisa registrado no SISBIO/ICMBio.

Ovos coletados no rio Oiapoque. Foto: Acervo PNCO
QUELÔNIOS NO TUMUCUMAQUE

“Tudo começa com a coleta. Fazemos a coleta dentro do Tumucumaque, no rio Anotae e, também no rio Oiapoque. Demora cerca de 3 a 5 dias cada viagem, para podemos realizar esse trabalho”, comenta Thon Miranda, Coordenador de Comunicação e Relação Interinstitucional da Associação Ambiental Pegadas de Oiapoque (AAPO).

A coleta de ovos de tracajás inicia no fim do mês de setembro e se estende até a primeira quinzena de novembro. “Todos os ovos são coletados em protótipos de garrafa pet, pois necessitamos retirar um pouco da areia do local onde eles estão, por conta de uma secreção que os animais soltam na terra”, explica Thon.

Os ovos coletados nos arredores do Tumucumaque são levados para incubação artificial localizada na Chácara du Rona, na cidade de Oiapoque. “Quando chegamos de campo já fazemos o plantio dentro da incubadora. Da mesma forma que retiramos do ninho natural temos que implantar na incubadora. Depois de no mínimo 50 dias, verificamos a cova para ver se os ovos já estão eclodindo”, conta Thon.

Após a eclosão os ovos são colocados no tanque. A soltura dos tracajás ocorrem no rio Oiapoque e no seu afluente Anotae.“A soltura ocorre no perímetro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Pois os tracajás voltam para reproduzir sempre nos locais que nasceram, nas mesmas praias”, diz Thon.

De acordo com a AAPO, no ano de 2008, foram coletados 800 ovos no rio Anotae, afluente do rio Oiapoque, tendo eclodido 756. Em 2011, foram coletados 1315 ovos, tendo eclodido 1127. Em 2014 foram 3085, com nascimento de 3015 tracajás.

Segundo Adelilson Rodrigues, coordenador de campo da AAPO, os dados sobre as atividades do ano 2016 ainda não tinham sido finalizados devido a problemas ocorridos durante a etapa.

“Tivemos perda sim, mais foi uma quantia pequena, só os filhotes que realmente não tinham condições de sobreviver nem no seu ninho natural. Os motivos das mortes foram naturais mesmo, mal desenvolvimento do filhote e ovos que não geraram filhotes”, explica Rodrigues.

A atuação do Projeto Quelônios, além de contribuir para o repovoamento das espécies quase ameaçadas de extinção, objetiva promover a educação ambiental nas escolas das comunidades, o incentivo ao turismo de base comunitária e integração da comunidade com a gestão das Unidades de Conservação, conforme informou a AAPO.                       

Soltura na comunidade de Vila Velha. Foto: Acervo PNCO
QUELÔNIOS NO CABO ORANGE

De acordo com Ricardo Pires, Chefe do PNCO, as coletas de ovos de tracajás e tartarugas-da-amazônia acontecem nos limites do PARNA Cabo Orange e no interior da unidade de conservação (UC). “Agora a coleta também é realizada dentro do Parque, no lago Matupiri, e também no entorno, ao longo das margens rio Cassiporé”, explica.

Segundo Ivan Vasconcelos, analista ambiental do ICMBio, no ano de 2016 a Vila Velha do Cassiporé,  obteve 600 filhotes de tracajás e cerca de 200 tartarugas, que foram devolvidos a natureza. Na Vila de Primeiro do Cassiporé, nasceram 2000 tracajás e 515 tartarugas. Essas comunidades fazem parte do Assentamento Agroextrativista do Instituto Nacional de Colonização e Reforma (INCRA), localizadas ao redor do parque.

A comunidade de Quilombola do Cunani, distrito de Calçoene, também participou do projeto 2010 e 2011, mas parou devido à dificuldade para oferecer apoio. As atividades pretendem voltar em breve. “Fizemos em Cunani uma vez. Eles cobram muito da gente, o problema é a distância para dar apoio logístico, mas achamos importante voltar”, conta Ricardo.


PODOCNEMIS EXPANSA (TARTARUGA-DA-AMAZÔNIA)

A tartaruga-da-amazônia, Capitari para os machos, é essencialmente aquática que vive tanto em sistemas de água branca como em águas escuras. A espécie chega a medir 90 cm de comprimento e pesar 65 kg. Ocorre na Colômbia, Venezuela, Guianas, Brasil, Peru, Equador e Bolívia. 

A espécie possui um único período reprodutivo anual. As fêmeas depositam uma única ninhada por temporada reprodutiva, desovando em áreas abertas. O período de incubação varia entre 45 e 75 dias. O número de ovos e os seus tamanhos variam de acordo com a localidade, sendo encontrados desde ninhos com 50 até 135 ovos.

PODOCNEMIS UNIFILIS (TRACAJÁ)

Espécie de cágado muito comum na Amazônia, Tracajá (fêmeas), Zé prego (macho), que vive entre 60 e 90 anos em habitat natural. Quando adulto, chega a ter 45 cm de comprimento, com cerca de 8 quilos de peso. Ocorre no Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Guiana, Guina Francesa e Suriname. O problema é o comércio ilegal que ocasiona a caça predatória dos animais adultos junto com os ovos, classificando assim a espécie como Quase Ameaçada (NT) de extinção.

Durante o período reprodutivo, os tracajás põem cerca de 15 a 30 em buracos na margem dos rios, onde camufla o ninho com lama e folhas. A incubação leva de 90 a 220 dias. Os filhotes quase sempre são ameaçados por onças, aves e até alguns peixes carnívoros, em média, apenas um ou dois animais de cada ninhada atingem a fase adulta.

Tracajá Albina eclodida na Comunidade de Primeiro Cassiporé. Foto: Acervo do PNCO

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