quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Retrospectiva 15 anos Tumucumaque: “Era impressionante sentir as vibrações sonoras da biodiversidade”, diz geógrafo sobre o Parque


Bruno Reis é mestre em gestão territorial

“Parafraseando Cazuza, foi como se eu matasse saudade do que eu não tinha vivido. Um (re)encontro com minha ancestralidade”, disse o mestre em Gestão Ambiental e Territorial, Bruno Reis, 36 anos. O Geógrafo passou duas noites no Centro Rústico de Vivência, durante uma expedição de 10 anos no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT).


“Era impressionante sentir as vibrações sonoras da biodiversidade as noites e durante os dias... Uma sonoridade que conduzia à expansão da minha percepção sobre o lugar. Nunca tinha vivido nada parecido”, relata.

Bruno relembra que seu primeiro contato com o Tumucumaque foi em 2003, durante a graduação em geografia, quando fez um trabalho acadêmico falando sobre Unidades de Conservação (UC). “Escolhi o PNMT por ter sido recém decretado e ser a maior área protegida com floresta tropical do mundo”, afirma.


Dez anos depois, um dos sonhos de quem era apaixonado por floresta tropical, se tornava realidade: Bruno volta atuando como profissional.  Em 2012, em comemoração aos 10 anos do Parque, ele apresenta a proposta do Projeto Biodiversidade nas Costas para o conselho consultivo do PNMT.


O Geógrafo relata que suas experiências no Tumucumaque lhe tornaram uma pessoa melhor:

“A imensidão da Amazônia no PNMT me deu muito sobre minhas limitações e potencialidades de ser humano, sem dúvida. Existe o meu antes e o meu depois do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque”, comenta.

Biodiversidade nas costas


O projeto foi realizado entre 2013 e 2015. O material pedagógico, composto por seis publicações, foi elaborado pelo WWF-Brasil, como parte do projeto BNC-Tumucumaque, em parceria com professores e alunos dos cursos de geografia e de biologia da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).


“Foram produzidos livros paradidáticos, guias de sociobiodiversidade, jogos pedagógicos, inclusive para educação especial, revista em quadrinhos, de maneira participativa com docentes e discentes da Unifap, através de dois cursos de extensão universitária - Geografia e Ciências Biológicas - e professores-estudantes da Plataforma Paulo Freire, além dos especialistas das equipes do WWF, ICMBio e Ecocentro IPEC”, explica.


Bruno conta que o Parque foi um marco durante sua atuação no bioma. “Cada vez que abro a mochila Biodiversidade nas Costas-Tumucumaque, leio cada material, sinto que valeu a pena cada passo até chegar ali, no Tumucumaque”, ressalta.


Ficou curioso para conhecer a coleção do Biodiversidade nas Costas? Baixe a versão em PDF dos materiais didáticos abaixo:










terça-feira, 22 de agosto de 2017

Retrospectiva 15 anos Tumucumaque: “A biodiversidade é enorme em todos os aspectos”, diz geógrafa sobre o PNMT


Claudia Funi é especialista em geoprocessamento da SEMA/AP


“Foi meu primeiro contato com a floresta e superou minhas expectativas”, relatou a especialista em geoprocessamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá (SEMA/AP), Claudia Funi, sobre a participação no inventário biológico no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT). A geógrafa era responsável pela produção dos mapas antes e após as primeiras expedições de levantamento da biodiversidade, que ocorreram entre 2004 e 2006.

“Considero a biodiversidade o bem mais precioso que o Amapá possui. É algo que não podemos replicar. Em todas as expedições encontramos espécies novas, áreas de endemismo e grande diversidade”, afirma.

Claudia era responsável pela produção dos
mapas durante as expedições
A geógrafa, que veio de São Paulo para o Amapá, especialmente para essas expedições e acabou ficando no estado até hoje, fala que durante a coleta do inventário teve momentos incríveis:


“Em uma das expedições a quantidade de animais avistada era acima da média: veado, tamanduá, anta, jaguatirica, preguiça, paca, nunca vi tantos animais. Os macacos nos acompanhavam por quilômetros na trilha”, relata.

Claudia lembra que além dos pesquisadores, mateiros também acompanhavam as expedições, e com eles aprendeu ensinamentos sobre a mata.

“A biodiversidade é enorme em todos os aspectos. Através do contato com pesquisadores, mateiros e barqueiros, aprendi um pouco sobre a floresta, reconhecer algumas espécies, sons, sinais que animais deixam nas trilhas, nos igarapés há beleza e há perigo, o importante é respeitar”, ressalta. 
                     
Inventário Biológico

O projeto foi promovido pela Conservação Internacional, através do Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto de Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O inventário biológico desejava contribuir para a lista de espécies no corredor da biodiversidade. 
 
“A equipe de biólogos era bem animada e aceitavam o desafio de irmos o mais longe possível. Então navegávamos os rios por 2 até 7 dias para chegarmos no local escolhido”, conta Claudia.

As expedições dentro do PNMT foram realizadas entre 2004 e 2006.  Segundo Claudia, nove expedições foram feitas por via fluvial e uma por via aérea. Das dez expedições em floresta, cinco aconteceram no Tumucumaque.

“Foram realizadas dez expedições em áreas de floresta no PARNA Tumucumaque, FLONA Amapá e RDS Iratapuru. Para termos um melhor resultado, nós procurávamos ambientes diferentes em áreas de floresta. A escolha era feita usando sensoriamento remoto: imagens LandSat principalmente”, explica.

Conforme a geógrafa, as expedições eram de observação e coleta. Os biólogos eram especialistas em mamíferos terrestres, mamíferos voadores (morcegos), aves, crustáceos, peixes, répteis e anfíbios e botânicos.

“Quando chegávamos no ponto de estudo, um acampamento básico era montado e permanecíamos nele por cerca de 15,16 dias. Eram realizados 10 dias de estudos sistemáticos, com esforço amostral repetido em todas as expedições. Demais dias para montar a estrutura: abertura de trilhas, montagem das armadilhas”, ressaltou.

Claudia Funi é especialista em geoprocessamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA/AP), mestra em Biodiversidade Tropical e responsável pelo Projeto Base Cartográfica do Amapá.